Torcedor fanático do Santos, escreveu o roteiro do curta-metragem Uma História de Futebol, que concorreu ao Oscar. O filme conta a história do garoto Gasolina em Bauru. Ele que viraria, anos mais tarde, o Pelé.
Torero acaba de lançar o primeiro livro de seu mais novo "personagem", o Lelê, seu sobrinho fictício. Ambos, Torero e Lelê, mantêm blogs muito acessados. Você encontra os respectivos blogs nos favoritos aí no lado.
Vamos à entrevista.
Craque de Blog - Você é um dos escritores mais brilhantes da sua geração. Mas não é só isso, você também é diretor e roteirista de cinema, além de jornalista esportivo. Qual dessas atividades você considera a sua atividade principal e por que?
José Roberto Torero - Acho que minha atividade principal é escrever livros. Não porque eu faça isso melhor que as outras coisas, mas porque é a que mais gosto de fazer. As outras atividades são trabalhos e diversões.
Craque de Blog - Recentemente você deixou órfãos seus leitores ao anunciar que deixará de escrever sua coluna na Folha de São Paulo para se dedicar a um livro. Pode adiantar algumas coisas sobre esse livro? Sobre o que fala, o título, quando será lançado?
José Roberto Torero - Não posso falar sobre ele. Dá azar. Acho que ainda deve demorar um ano para ficar pronto. O pior é que esta semana tive uma idéia para um outro livro, e também já comecei a escrevê-lo. Pensando bem, talvez leve dois anos.
Craque de Blog - Torero, por que você escolheu o jornalismo esportivo e como foi parar na área?
José Roberto Torero - Eu já havia escrito um livro sobre o Santos (meu terceiro livro, “Santos, um time dos céus”), e era colunista (do caderno de cultura) do JT [Nota do blog: Jornal da Tarde]. Então a Folha de S.Paulo me convidou para escrever sobre futebol e eu aceitei.
Craque de Blog - Você tem toda uma gama de personagens que habitam as suas colunas. Como é o seu processo de criação desses personagens?
José Roberto Torero - Eles surgem porque eu quero falar sobre um determinado assunto. Por exemplo, o Zé Cabala surgiu quandom eu quis fazer previsões sobre os jogos (só depois ele passou a ser o caminho para que eu entrevistasse jogadores mortos), Tico e Teco porque eu queria falar sobre regulamentos (que eram muito absurdos) e Raimundo, o rei do submundo, porque fiquei sabendo algumas histórias de corrupção e precisava contá-las de algum modo.
Craque de Blog - Dizem por aí que, todo jornalista esportivo é um jogador de futebol frustrado. Você Concorda? Como foi com você? Lembro-me de uma coluna sua contando uma história na qual você se imaginava um jogador. Foi verdade?
José Roberto Torero - Concordo. Eu, por exemplo, fiz um teste para um time de várzea chamado Universo. E, como conta aquela coluna, fui rejeitado pelo Universo.
Craque de Blog - Qual a sua posição sobre a atual situação política do país. Continua sendo “de esquerda”? E a sua avaliação do governo Lula?
José Roberto Torero - Continuo sendo de esquerda, o Lula é que não. Fiquei decepcionado com o governo dele, mas não acho pior que os anteriores. O que é ainda mais triste.
Craque de Blog - A sua carreira é marcada pelo brilhantismo com que você faz as coisas. Mas é, também, marcada pela quantidade de coisas que você fez com o tema amor. O que o amor representa para você? E onde ele se encaixa na hora de cada projeto seu?
José Roberto Torero - O amor, para mim e para todo mundo, é algo muito importante na vida, é a coisa que mais facilmente nos traz felicidade, sejamos pobres ou ricos, velhos ou jovens.
Craque de Blog - Qual é o trabalho que, quando você olha de novo, te dá mais satisfação por ter feito?
José Roberto Torero - O Chalaça e Terra Papagalli
Craque de Blog - Como todo escritor, você deve ser um leitor voraz. Como essa característica ajuda no seu trabalho e no seu aprimoramento?
José Roberto Torero - Não existe escritor que não seja leitor. O chato é que, quando você passa a ser escritor, começa a ter menos liberdade de leitura. Por exemplo, agora eu quase só leio coisas sobre o assunto do próximo livro. Estou virando um expert em Bíblia.
Craque de Blog - Quais as suas preferências quando o assunto é a leitura? Quais os livros que mais te agradaram?
José Roberto Torero - “Memórias Póstumas de Brás Cubas”, de Machado de Assis foi um livro que me fez ver as coisas de um modo diferente. Ele acaba com sua ingenuidade. “Grande Sertão: veredas” talvez seja o melhor livro que já li. E cito ainda Hocus-pocus, de Kurt Vonnegut Jr. e entre os recentes, “Memórias da menina má”, de Mario Vargas Llosa.
Craque de Blog - Saindo dos livros e indo para o cinema, quais os gêneros de filme que você gosta?
José Roberto Torero - Prefiro comédia.
Craque de Blog - E dos filmes esportivos, cite aqueles que te impressionaram, histórias reais ou não.
José Roberto Torero - O melhor que já vi foi “Garrincha, alegria do povo”, um belo documentário.
Craque de Blog - Ao mesmo tempo em que anunciou que sairá de cena para acabar o livro, disse que volta para trabalhar nas Olimpíadas. Como é a sua preparação para cobrir eventos especiais, como Olimpíadas e Copa do Mundo?
José Roberto Torero - Para os Jogos Olímpicos de Sydney eu preparei algumas histórias com seres mitológicos e li sobre os antigos jogos. Para a Copa do Mundo levei algumas pautas, algumas idéias, e mesmo um ou outro texto já começado. Mas é claro que lá você tem novas idéias e muda todo seu planejamento de acordo com os fatos.
Craque de Blog - Desde o ano passado, a Internet brasileira tem um novo fenómeno, que é o blog do Lelê. Quem é ele?
José Roberto Torero - Leocádio, mas que todo mundo chama de Lelê, é meu sobrinho fictício de oito anos. Ele teve um blog durante a Copa e fez tanto sucesso que passou a ter um blog próprio. Por sinal, muito mais lido que o meu.
Craque de Blog - Como surgiu a idéia de criá-lo e qual o intuito de criar um personagem infantil como o Lelê?
José Roberto Torero - Ele surgiu na Folha. A idéia era mostrar os jogos de futebol pelos olhos de uma criança. Agora, uso o Lelê para escrever alguns causos que aconteceram comigo quando eu tinha oito anos: a primeira paixão, o primeiro braço quebrado, a primeira morte de alguém conhecido, o desejo de virar vegetariano depois de conhecer os bichos de uma fazenda, etc...
Craque de Blog - Você já parou para pensar na importância que ele pode ter para toda uma geração de crianças? Porque com as histórias do Lelê, você acaba ensinando as crianças de uma forma muito eficaz.
José Roberto Torero - Acho que ele não será tão importante assim, mas de vez em quando tenho tentado falar de história
Craque de Blog - O Lelê pode ser para essa geração o que o Menino Maluquinho foi para as gerações passadas? O que você pensa disso?
José Roberto Torero - Acho que é uma comparação muito gentil e um tanto exagerada. O Lelê já teve mais de um milhão de acessos, mas ainda está longe do Menino Maluquinho.
Craque de Blog - Como nasceu a sua paixão pelo Santos?
José Roberto Torero - Nasci em Santos em 1963. Ou seja, nem havia como não torcer pelo time.
Craque de Blog - Em algum momento a revelação de que você é santista te atrapalhou na sua carreira como jornalista esportivo?
José Roberto Torero - Nunca. Logo de cara falei que torcia para o Santos, ou seja, assumi que era um autor subjetivo. E a subjetividade assumida é mais honesta que a objetividade presumida.
Craque de Blog - Com a crescente onda de fanatismo e violência por parte dos nossos torcedores, você teme por sua segurança por ser declaradamente santista?
José Roberto Torero - Não, nunca tive problemas.
Craque de Blog - Poderemos sonhar ainda com o Torero de volta à televisão? O que você pensa da idéia?
José Roberto Torero - Já tive um programete de cinco minutos no Canal Brasil, onde eu entrevistava objetos. Talvez faça um programa mais longo lá, mas nada diretamente ligado ao futebol.
Craque de Blog - O que mais você mais aprecia nos seus amigos?José Roberto Torero - O bom humor. E ver que estão com menos cabelo do que eu.
Craque de Blog - Quem você gostaria de ser se não fosse você mesmo?
José Roberto Torero - Matusalém, que viveu 969 anos.
Craque de Blog - Que profissão, excetuando-se a sua, você gostaria de ter?
José Roberto Torero - Senador. Ou vice-presidente. Enfim, algo que não desse trabalho.
Craque de Blog - Ao final de toda a sua vida, como você gostaria de ser lembrado?
José Roberto Torero - Com ódio pelos meus credores.
Craque de Blog - Se Deus existe, o que gostaria que ele lhe dissesse quando chegasse ao Céu?
José Roberto Torero - Não, não é engano, seu lugar é aqui mesmo.
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