domingo, 17 de julho de 2005

Ser juiz..........

Conto a vocês uma história que ilustra bem o calvário que tem sido, ao longo do tempo, a vida do juiz de futebol.
Aconteceu numa cidadezinha do interior da Bahia, ali pelos anos 40. Era uma partida entre o anfitrião Iracema F.C. e o Modesto F.C.. O delegado Fontenele foi ao vestiário do juiz antes de começar o jogo.
- Estou aqui - disse o policial - pra uma visita de cortesia, mas também pra lhe dar garantias de vida - disse, explicando que falava na condição de delegado da cidade.
- O senhor não é daqui, mas sabe como é o futebol: o time visitante, aqui, não pode vencer, nunca. A única vez em que isso aconteceu, me lembro como se fosse hoje: a torcida invadiu o campo, deu nos visitantes, quase mata o juiz.
- Seja o que Deus quiser - disse o árbitro ao delegado, que reagiu assim:
- Seja o que Deus quiser, não; não vamos meter Deus nesse jogo porque não dá certo. É melhor dizer: seja o que o Iracema quiser...
O zero a zero não convinha ao anfitrião, que perderia a taça oferecida pelo prefeito. Quarenta minutos do segundo tempo, nada de gol; ou melhor, nada de chegar o gol encomendado pelo delgado Fontenele, em nome da paz coletiva.
O juiz olhou o cronômetro: o alambrado era o próprio público, que, na sua explosiva impaciência, vinha fechando o cerco, mal deixando espaço para o vaivém dos bandeirinhas.
Não conversou. Passando pelo ponta-de-lança, o juiz deu uma dica: no primeiro abafa, pode cair na área, espalhafatosamente. Foi o que fez o jogador.
Pênalti contra o Modesto F.C., que é o visitante.
Protesta daqui, reclama dali, bola na marca, lá vem para a cobrança Castanheira, o artilheiro e, popularmente, dono do time.
E Castanheira, com um tremendo coice, chuta a bola às nuvens. Desespero no público, desespero no campo. Faltando três minutos, como é que vai acontecer um desastre desse?
Enfim, se havia ainda três minutos de jogo, nem tudo estava perdido. Era só cair outro na área do Modesto que o juiz não hesitaria em aplicar aos faltosos o castigo que a lei determina. Tempo para a cobrança não é problema porque a regra é clara: o pênalti é a única falta que pode ser cobrada além do tempo regulamentar. O juiz deve prorrogar indefinidamente o jogo até que o pênalti seja cobrado. Portanto...
Pênalti contra o Modesto F.C..
Jogadores afastados da grande área. Quem ajeita a bola pra cobrança? Castanheira, artilheiro do time, ídolo da cidade e a quem os próprios colegas, numa prova de solidariedade, haviam escalado para chutar o pênalti e se reabilitar do fracasso anterior.
Quando o juiz percebeu que o homem do pênalti seria o Castanheira, foi ao encontro dele, tomou-lhe discretamente a bola das mãos e, quase cochichando, sentenciou:
- Me desculpe, mas você, não. Você vai acabar me matando aqui!
Perguntou quem era o ponta-esquerda, entregou a bola e mandou o outro cobrar o pênalti. Tomou posição, apitou e repetiu mentalmente a frase-oração:
- Seja o que Deus quiser!
E Deus quis: Iracema 1 a 0.

2 comentários:

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