quarta-feira, 26 de julho de 2006

Ao Mestre, com carinho!


Se estivesse vivo, Telê Santana da Silva completaria 75 anos. E logo hoje, dia em que o São Paulo enfrentará a sua mais árdua batalha nesta Libertadores.

Libertadores que o Telê odiava, por julgá-la uma competição em que não prevalecia a técnica e sim a malandragem, os favorecimentos e, em muitos casos, o Doping. Mas que ele aprendeu a gostar e ensinou a todos, primeiro aos são-paulinos, a gostarem deste torneio.

Quando da morte do "seu" Telê, em 21 de Abril deste ano, fiz um texto para uma homenagem que fizemos no ótimo quadro Heróis do Futebol, no nosso Esporte Especial, da Tupi AM de São Paulo. Depois de alguns cortes óbvios, o texto foi aprovado e a homenagem foi feita.

Coloco aqui o texto na íntegra e voces perceberão o porque dos cortes "óbvios". Espero que gostem.


Ele nasceu em 26 de Junho de 1931. No mesmo dia, mês e ano que nasceu a minha adorada avó, Anita. O futebol começou cedo para ele, mais precisamente no ano de 1945. Seu primeiro time foi o Itabirense, da sua cidade Itabirito, que fica a 55 quilômetros de Belo Horizonte. Itabirito era a sua grande paixão. De lá foi para o América de São João Del Rey, de Minas Gerais. Com 19 anos, foi para o Fluminense. E, logo de cara, foi campeão juvenil. Na final, fez 5 gols, coisa que ele nunca tinha feito e nunca mais fez na carreira. No Fluminense ganhou o apelido que lhe acompanhou por toda a vida: Fio de Esperança. Fio por causa do seu peso, 57 quilos. Esperança porque ele não desistia nunca, se doava ao máximo em um time em que todos os jornalistas e adversários chamavam de “timinho”. No Fluminense, conquistou o Campeonato Carioca de 1951 jogando de centroavante e marcou dois gols na final contra o Bangu. Seu maior título foi à conquista da Taça Rio de 1952, um campeonato que era considerado um Mundial para a época. A esta altura, minha mãe tinha 3 anos de idade e meu pai, 2 anos.

Ele ficou no Fluminense até 1960, quando se transferiu para o Guarani, já com 29 anos. Logo depois voltou para o Rio de Janeiro, para defender o Madureira e, em 1963, foi para o Vasco da Gama, clube no qual encerrou a carreira. Uma carreira marcada pro seu vigor físico e sua inteligência tática. Ele foi o primeiro ponta a recuar para ajudar na marcação do meio de campo. Meus pais já estavam então na adolescência.

Em 1967, assume o comando do time juvenil do Fluminense e, dois anos mais tarde, passa para o time profissional, onde conquista a Taça Guanabara. Em 1970, é convidado para dirigir o Atlético Mineiro. O Galo, vinha de um jejum de 5 anos sem conquistar o Campeonato Mineiro, afinal de contas, seu maior rival tinha Tostão. E não é que a série foi quebrada e o Galo se sagrou campeão. Esta história vai se repetir. Em 1971, meus pais, mineiros como ele, vêm para São Paulo, em busca de oportunidades, sem se conhecerem. Neste mesmo ano, ele conquista o maior título da história do Atlético Mineiro, Campeão Brasileiro. Minha mãe, como atleticana que era, comemorou.

Em 1977, ele é chamado pelo Grêmio para tirar o Tricolor Gaúcho da fila que o incomodava. O Internacional, maior rival do Grêmio, era octacampeão estadual e tinha tudo para comemorar mais uma vez, até porque, contava com Falcão para comandar o time. Mas lá estava ele, o homem parecia gostar de quebrar tabus, e o Grêmio foi campeão. Meus pais já se conheciam e já estavam noivos, prontos para o casamento.

Em 1979, ele não conquistou nenhum título, fez uma campanha brilhante com o time do Palmeiras. Um time limitado e que sofreu com uma manobra política para não ser campeão. O campeonato paulista foi paralisado no momento em que o Palmeiras estava muito bem, rumo ao título com todo o vapor. Na volta da paralisação, o time tinha perdido o gás. Mas 1979 é o ano em que eu nasci. Eu nem sabia mas, começava ali, uma história de aprendizado, respeito, admiração e confiança.

Pouco tempo depois ele é chamado para dirigir a Seleção Brasileira. Aos poucos, ele foi montando aquele que até hoje é considerado um dos melhores times da história. E foi na Copa de 1982, na Espanha, que esse time encantou o mundo. Perdeu, é verdade, mas saiu de lá como o grande vencedor. Se aquele time tivesse ganho, o futebol teria sido diferente. Nada de retranca, nada de jogar no erro do adversário. O futebol arte teria permanecido intacto. Eu tinha 3 anos.

Então ele foi para o chamado “Mundo Árabe” e lá conquistou alguns campeonatos. Voltou em 1985 para, de novo, dirigir o Brasil. E lá foi ele para a Copa de 1986. Nosso melhor jogador, Zico, estava machucado e perdemos de novo. Agora sim, ninguém perdoou, o chamaram de pé-frio. O execraram. Eu, então com 7 anos, não entendi muito bem, só lembro de ter ficado triste com aquela derrota do Brasil.

Só fomos nos reencontrar em 1990, quando ele veio dirigir o São Paulo, meu time do coração. São Paulo que havia perdido o Campeonato Brasileiro do ano anterior em casa e foi rebaixado para a segunda divisão do campeonato paulista. Eu não o conhecia, mas tinha ótimas referências afinal, minha família é toda das Minas Gerais, sô! E, por intermédio deles, fiquei sabendo do seu ótimo trabalho no Atlético. Mas, no seu primeiro campeonato, o brasileirão, ele foi vice e as desconfianças começaram a pairar sobre ele. Muitos no Tricolor queriam a sua cabeça. Foi lhe dado mais tempo e ele pôde, enfim, mostrar o seu trabalho. No ano seguinte, campeão paulista e brasileiro. Em 1992, o bicampeonato paulista e um título que a maioria dos torcedores nem sabia que existia, a Copa Libertadores. Isso despertou a atenção dos rivais, todos queriam ganhar do São Paulo. Mas quem disse que podiam. Aquele time era o mais perto da perfeição que um time podia chegar. E ainda tinha mais, muito mais. O Título Mundial, o bi da Libertadores, o bi Mundial. O tri. Não, o tri não veio, ficou para depois. Mas nem por isso ele perdeu nosso respeito. O meu respeito ele não perdeu nem mesmo após ter me dado uma bronca. Foi num São Paulo e Palmeiras, o jogo da briga. Terminado o jogo, eu desci para o vestiário a fim de pegar autógrafos dos jogadores. Foi quando eu o avistei, dando entrevista. Então corri e pedi que assinasse um papel em branco para mim. Ele fez com a mão um sinal para que eu tivesse calma. Mas a emoção era tanta que eu não tive calma e insisti, ao que ele respondeu: “Calma garoto, já vou assinar o papel pra você!”, lembro-me que, pela primeira vez, fiquei feliz por ter recebido uma bronca. Afinal de contas, não era uma bronca qualquer, era uma bronca dele.

Em 1996, após sofrer uma isquemia cerebral, ele deixa o São Paulo órfão “de pai e mãe”. Foram tempos duros que hoje conseguimos superar.

Mas nesse 21 de Abril, depois de ter ficado internado por 28 dias, ele deixou órfãos todos os torcedores do Brasil e do Mundo, pelo menos aqueles que gostam do futebol bem jogado, sempre para frente, buscando o ataque e os gols. Aqueles que hoje reverenciam Ronaldinho Gaúcho. Esses ficaram tristes com a perda do Mestre Telê Santana. Aos 74 anos ele nos deixou e entrou de vez para a galeria dos imortais, daqueles que serão sempre lembrados pelo que fizeram no nosso futebol, na nossa vida. O que seria de Dada Maravilha, de Cafu, de Ronaldão, de Pintado, de Válber e de tantos outros, se não fosse Telê Santana? Segundo Zico, Telê foi o único treinador que ele teve, que nunca mandou o time bater, pois ele gostava do espetáculo. Com ele, até o Júnior Baiano jogou bola. E sem dar pontapé, o que é o mais importante.

O que seria do São Paulo, hoje o time com a terceira maior torcida do país, com 14 milhões de torcedores, se não fosse Telê Santana? Se hoje, todos os times querem ser campeões da Libertadores, foi por causa dele. E, olhem só o contra-ponto, ela não gostava da Libertadores. Exatamente o campeonato que o consagrou, que lhe tirou a fama de pé-frio. Ele dizia: “Essa competição é uma competição onde se compra juiz e os jogadores se dopam, então eu não vou entrar nessa parada”.Por isso ele escalou um time reserva para o primeiro jogo da Libertadores de 1992, contra o Criciúma. O São Paulo perdeu de 3 a 0 e ele foi demovido da idéia.

Precisamos de mais pessoas como Telê na nossa sociedade, no nosso futebol. Se tivéssemos mais pessoas como ele, com certeza não estaríamos no caos que estamos hoje.

Pessoas como Telê, não morrem, saem da vida para adentrar a imortalidade.

Só posso dizer uma coisa, obrigado! Obrigado por ter me proporcionado a alegria de vê-lo treinar o meu time e por ter me ensinado que futebol é bola na rede, não toquinho de lado.
Para mim, você é eterno!!!

Um comentário:

Anônimo disse...

Very pretty design! Keep up the good work. Thanks.
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