sábado, 13 de setembro de 2008

Coração Valente

Não sei quantas pessoas lêem o blog. Mas para os poucos que o fazem, peço desculpas pela longa ausência.

Um misto de muito trabalho e pouco tempo.

Para reparar um pouco essa ausência, coloco uma matéria exclusiva para o blog. Minha, é claro.

Coração valente

Jogadores têm coração maior e mais pesado para agüentar o tranco que o futebol exige.

Foi na metade do século XX que estudos mostraram que os atletas em geral têm coração maior e mais pesado do que os não-atletas. Esse fato indica que o aparelho cardiovascular dos atletas se adapta mais facilmente ao esforço provocado pela a intensidade dos jogos de futebol. Por isso o preparo e o condicionamento físico são tão importantes hoje em dia. Um jogador corria, há 20 anos, cinco quilômetros por jogo. Hoje são 12 quilômetros em média.

Esse novo esforço tem trazido conseqüências graves. Ninguém se esquece de Serginho, que teve uma parada cardiorespiratória quando defendia o São Caetano, em 2004, em um jogo contra o São Paulo, no Morumbi, e veio a falecer por uma cardiopatia grave. “Por isso os exames prévios são importantes”, diz o médico Nabil Ghorayeb, coordenador do Sport Check-Up, do Hospital do Coração de São Paulo. É lá que alguns dos grandes times da capital paulista realizam seus exames de prevenção. Com a experiência de atuar no ramo por mais de 30 anos, Nabil garante que hoje as arritmias cardíacas são em maior número quando comparadas aos casos de 20 anos atrás. O aumento é de aproximadamente 10%. Segundo ele, esse aumento foi causado por uma mudança de perfil dos atletas. Os de antigamente, por exemplo, se cuidavam mais no quesito alimentação, eram mais regrados. Os de hoje adoram comidas gordurosas (sanduíches, churrasco, frituras), aumentado assim os níveis de colesterol. Somem-se a isso os altos níveis de álcool, o consumo de bebidas energéticas - que são moda em qualquer balada hoje em dia -, a intensificação dos exercícios físicos, e o estrago está feito. O excesso de treinamento praticado nos dias de hoje está minando a imunidade dos jogadores e, por isso, algumas viroses atingem o coração provocando miocardites, doenças do músculo cardíaco do coração. Um atleta que treina com uma simples gripe pode sobrecarregar seu coração a ponto de ele apresentar uma arritmia que o tire de combate por um bom tempo. Isso se não for para sempre.

Um estudo do COI (Comitê Olímpico Internacional) mostrou que entre 1966 e 2004 houve 1101 mortes em atletas com menos de 35 anos. Dessas mortes, 110 foram por infarto em atletas não-fumantes, mas com colesterol alto.
E a situação deve ficar pior. Os atletas que hoje são exigidos de forma hercúlea, vão sofrer mesmo é na hora da aposentadoria. O problema está na provável manutenção dos hábitos alimentares atuais sem a prática diária de exercícios. A tendência então é que eles ganhem peso, sobrecarregando ainda mais o coração. Aí entra em cena um novo marcador implacável: a pressão alta. Uma vez que a pressão alta aparece, ela geralmente dura a vida toda. A boa notícia é que ela pode ser controlada. O grande Dudu, ex-jogador do Palmeiras, que formava o meio de campo da “academia” com Ademir da Guia, descobriu, depois de ter parado, que sofria de pressão alta. Hoje com 68 anos ele controla o marcador implacável que não o deixa mais. “Procuro caminhar sempre que posso e ainda bato uma bolinha, mas é raro”, diz o ídolo palmeirense. Nos tempos de jogador, Dudu oscilava seu peso entre os 60 e 63 quilos. Hoje em dia seu peso varia de 70 a 72. “Sempre houve muito churrasco, muita bebida. A questão é que o jogador tem que se preocupar, tem que ter juízo, saber comer, saber beber. Os jogadores têm muita facilidade, são muitos convites para ir a festas, a churrascos. E, se não se cuidar, abusa mesmo. Aí daqui a pouco está com 80, 90 quilos e já não tem volta.”