segunda-feira, 30 de junho de 2008

Big Phil

Aqui um ótimo perfil do técnico Luis Felipe Scolari na Carta Capital. Ajuda a entender um pouco mais o técnico campeão por onde passou (menos em Portugal).

Por Phydia de Athayde
“Guri, faça o teu trabalho tranqüilo.” Com essas palavras, o treinador Luiz Felipe Scolari se apresentou ao preparador de goleiros do Palmeiras, Carlos Pracidelli. O mesmo que xinga, grita e é capaz de partir para a briga quando está na beirada do gramado, sabe como poucos exercer a humildade, a lealdade e manter uma equipe unida.

A partir de 1º de julho, o brasileiro assume o comando do Chelsea, time do milionário russo Roman Abramovich. Chega à Inglaterra depois de comandar a seleção de Portugal por cinco anos e meio. No período, o time português ficou entre os quatro melhores no Mundial de 2006 e a torcida resgatou um orgulho adormecido. Scolari era o quarto de uma lista de técnicos sondados pelo Chelsea e tratou de aceitar a proposta, estimada em 6,25 milhões de libras anuais por três anos, para confirmar que é o treinador brasileiro mais valorizado do mundo. Qual o segredo desse sucesso? Não há. Ou melhor, não é segredo algum.

O homem é muito simples, muito exigente, muito trabalhador. Também é um tanto rude, um tanto teimoso e outro tanto explosivo. Mas já mostrou ter bom coração e, coisa rara no futebol, é desprovido de ego. Aos 59 anos, Scolari carrega quatro décadas de experiência no futebol. Nesse tempo, aperfeiçoou-se a ponto de, por exemplo, aprender a ouvir opiniões diferentes da sua. Mas não mudou o essencial. “Ele sempre teve liderança. Como zagueiro, era o capitão e o xerifão do time”, diz o radialista esportivo Costa Cabral, que viu Scolari chegar ao Centro Sportivo Alagoano (CSA) para ser campeão estadual em 1981. “Ele não tinha técnica, ia para onde o nariz apontava. Mas tinha o time nas mãos.”

Quem treinava os alagoanos era Walmir Louruz, gaúcho como Scolari e amigo desde a juventude. “Ele não gosta muito de receber conselhos, mas, se é dito no momento certo, acaba ouvindo”, diz. Louruz sugeriu e providenciou que Scolari se tornasse treinador de futebol e, em 1982, estreasse no CSA. A experiência foi difícil, durou apenas dois meses. O novato pegou um “plantel de cobras-criadas”, na avaliação de Cabral, que acompanhava o time: “Por incrível que pareça, o Luiz Felipe, que é durão, foi tirado da equipe porque ainda não tinha esse impulso”. Mas deixou amigos no CSA.

Em 2005, o time estava na Segunda Divisão do alagoano. De passagem pelo estado para gravar um comercial e comprar um terreno na praia de Barra Nova, o ex-técnico fez uma preleção de luxo para os jogadores. Falou que o CSA é grande, que ele próprio já tinha vestido aquela camisa e, ao finalizar, pediu que os atletas dessem “sangue, suor e lágrimas” em campo. Não foi uma tirada imaginosa, mas o time ganhou por 1 a 0.

Sangue, suor, lágrimas e pancada. A fama de técnico que manda bater, e de retranqueiro, faz parte do currículo de Scolari. “Jogador meu tem de ir na bola como se fosse o último prato de comida”, costuma dizer. Ele não é treinador de receber elogios dos fãs do chamado futebol arte. “Jogando feio e ganhando, tudo fica lindo”, ironiza. Seja como for, o futebol de resultados o levou à seleção brasileira (que se encontrava em estado de calamidade em 2001) e rendeu o pentacampeonato ao Brasil, na Copa de 2002. Era o 16º título em 26 finais disputadas pelo técnico.

Scolari é especialista em mata-matas. Gosta de jogar sob pressão e sabe, como poucos, despertar os jogadores. Em 1999, antes de um jogo contra o Corinthians pela Libertadores, vazou para a imprensa o áudio do técnico palmeirense. Felipão mandava chegar junto, “quebrar, chutar, cuspir”. O Palmeiras, mesmo com menos time, superou o rival.

Entre o acanhado treinador do CSA e o vitorioso que chega ao Chelsea, o caminho foi longo e trabalhoso. Entre outros times, ele treinou o Al Shabab da Arábia Saudita e os gaúchos Brasil de Pelotas, Juventude e Pelotas. Em 1987, chegou ao Grêmio pela primeira vez e foi campeão gaúcho. Voltaria ao clube em 1993. Antes, treinou o Goiás (GO), o Al Qadsia (do Kuwait) e a seleção daquele país. Em 1991, foi campeão da Copa do Brasil com o Criciúma (SC) e, no ano seguinte, retornou ao Oriente Médio. A segunda passagem pelo tricolor gaúcho rendeu títulos como a Copa do Brasil (em 1994) e o Campeonato Brasileiro (1996), além da Copa Libertadores da América, em 1995. Em seguida, perdeu a final do Mundial Interclubes, disputada em Tóquio, para o Ajax da Holanda. Em 1999, com o Palmeiras campeão da Libertadores, o Mundial escapou na derrota para o Manchester.

Por onde passou, Scolari deixou boas histórias. Antonio Carlos Verardi, supervisor de futebol cuja história se confunde com a do Grêmio, lembra de quando ele era apenas o zagueiro, “grosso, muito grosso”, do Flamengo de Caxias. O ano era 1977. Em um amistoso contra o Grêmio treinado por Telê Santana, desentendeu-se com um adversário, o zagueiro Oberdan Vilain. “A bola furou a rede pelo lado de fora e o juiz validou o gol. Ele armou um sururu, queria chegar às vias de fato com o Oberdan, era muito voluntarioso”, conta Verardi, entre risos. “Eu me perguntava: ‘esse camarada não se contém?’”

Anos depois, o já técnico Felipão trazia o espírito brigador para o Grêmio. Verardi confirma que, no dia-a-dia, ele é o próprio “sargentão”. E destaca que a maior qualidade do treinador é ter controle total do grupo. Scolari é um obstinado e, com o mesmo ímpeto que se doa, exige entrega incondicional dos comandados. O Grêmio de Scolari ficou marcado como um time violento, como ocorreria com o Palmeiras (onde chegou em 1997, após deixar o Rio Grande do Sul para treinar o Jubilo Iwata, no Japão). O fã Verardi relativiza a violência em campo: “Futebol é um esporte de contato. Interromper um lance pode enfear o espetáculo, mas é buscar a vitória”.

O gremista relata outro episódio, ocorrido durante uma excursão à Europa. Sob o comando de Scolari, o time enfrentava o Estrela Vermelha, da Romênia, e um jogador em especial estava comendo a bola. Ao lado do campo, apontando para o sujeito, o treinador gritou alto e claro para um dos seus: “Vais deixar este filho da p... jogar?” O problema é que o romeno compreendeu. Se não integralmente, por certo a parte que lhe dizia respeito. Veio pra cima de Felipão, Felipão pra cima dele. Outra enorme confusão. Daquela vez, o Grêmio perdeu.

O estilo agressivo deixou hematomas históricos na trajetória de Scolari. Em 1995, durante um confronto entre Grêmio e Palmeiras, o técnico por pouco não partiu para o corpo-a-corpo com Vanderlei Luxemburgo, então treinador do clube paulista. Em 1997, com o Palmeiras, devolveu uma bola que saiu pela lateral jogando-a na cara do jogador do Vasco, Válber. No ano seguinte, ainda no Palmeiras, em uma coletiva após um treino do time, o técnico se estranhou com o jornalista Gilvan Ribeiro. Trocaram provocações e o repórter recebeu um soco no queixo.

Resolver desavenças na base do punho fechado é um instinto que Felipão ainda não aprendeu a controlar. Em setembro do ano passado, no encerramento de uma tensa partida entre a seleção de Portugal e a da Sérvia pelas Eliminatórias da Eurocopa, Scolari tentou esmurrar o jogador sérvio Dragutinovic. Por sorte não acertou, mas as câmeras e toda a Europa flagraram a tentativa de agressão. Está no YouTube.

“Desculpem, não sou infalível. Foi um reflexo após várias provocações, e eu quis proteger meus jogadores”, justificou-se após a ocorrência. O assessor de imprensa do treinador, Acaz Fellegger, ajudou a preparar uma estratégia de mídia para minimizar as conseqüências do destempero. Além do pedido de desculpas, aceitas pelo sérvio, o treinador participou de um respeitado talk show na tevê portuguesa, ocasião em que pôde explicar o enredo completo das provocações que culminaram no soco fora do alvo. A tese da defesa, que é a mais crua verdade, baseou-se na palavra-chave dos relacionamentos pessoais e profissionais de Felipão: lealdade.

“Ele morre por você.” Fellegger diz algo que poderia ser repetido por qualquer um que tenha sido comandado por Scolari. E a lealdade tem um preço: “Se você errar com ele, esqueça. Não uma falha humana, mas proposital. Acabou”. O assessor é um confesso admirador do técnico e guarda na lembrança o momento em que ele disse que o apoiaria no clube (então, o Palmeiras), mas que ele deveria fazer o mesmo. “Foi dito e feito”, conta Fellegger. Assim que o contrato com o clube paulista terminou, foi convidado a trabalhar diretamente com o treinador. E lá se vão oito anos.

Com a mesma intensidade que cobra e exige, Scolari zela pelos seus. No vestiário, é o tipo de treinador que se preocupa com os problemas pessoais de cada jogador. Sabe os nomes de cor e sempre pergunta como andam os filhos, a esposa, a família. “Ele tem um coração enorme, é muito sensível”, diz Verardi, e faz uma análise da relação entre os boleiros: “O principal adversário do jogador de futebol é o reserva da posição. É muito difícil administrar o emocional do vestiário, e o Scolari sabe como ninguém manter o espírito do grupo unido”.

Pracidelli tem 14 anos de Palmeiras. Nesse período, viu uma infinidade de técnicos entrarem e saírem do clube. Nenhum se parece com Scolari. Profissionalmente, diz, é exigente e detalhista acima da média. “Pessoalmente, ele é um pai. Chama a sua atenção, mas te pega no colo, te protege para toda a vida”, diz o preparador de goleiros, que acaba de ser anunciado como primeiro reforço no Chelsea de Felipão. O treinador já o havia chamado para integrar a equipe técnica da seleção brasileira na Copa de 2002 e agora repete o convite. Como na vez anterior, Pracidelli foi surpreendido por um telefonema de Felipão, a quem chama de “Seu Luiz”. Sensibilizado e feliz pelo reconhecimento, aceitou sem pestanejar.

Se a relação do treinador com os dirigentes é mais distante (“Eles cuidam do que é deles, do campo cuido eu”), o calor humano de Scolari extrapola fácil o vestiário para se estender ao porteiro, à copeira, aos funcionários que aparam o gramado. Pracidelli traduz: “Todos se sentem importantes. Ele faz a sua dor ser a dor dele. Não dá para não aceitar esse pacto. Quando acontece uma derrota, ele chora junto com os jogadores, mas é o primeiro a abraçar todo mundo e levantar o moral da equipe”.

Bom gaúcho, Scolari adora um churrasco. Nas confraternizações entre jogadores e equipe técnica, é sempre um dos que mais participam. Fica na churrasqueira, faz questão de salgar a carne, toma lá uma cervejinha, uma caipirinha e é um ótimo contador de piadas. Enquanto viveu em Portugal, durante as visitas ao Brasil, não era raro aproveitar a escala em São Paulo e telefonar, do aeroporto, para Pracidelli. “Junta a rapaziada!”, era a senha para mais um almoço na churrascaria Fogo de Chão, próxima ao centro de treinamento do clube.

Além de Pracidelli, Felipão tem uma legião de amigos e parceiros a quem é muito fiel. E todos respondem com a mesma lealdade. Entre eles, o inseparável auxiliar técnico Flávio Murtosa, o preparador físico Paulo Paixão, o ex-dirigente do Grêmio Luiz Carlos Silveira Martins e o autor de sua biografia, Ruy Carlos Ostermann. Há, ainda, o presidente do Clube dos Treze, Fábio Koff, que, assim como Ricardo Teixeira na CBF, está no cargo há décadas após sucessivas e protocolares reeleições.

Em política, fica entre a ingenuidade e o desinteresse. Durante entrevista a uma rádio, em 1998, Scolari não escondeu a simpatia pelo ex-ditador chileno Augusto Pinochet, que, conforme disse, “fez coisa boa também. Ajeitou muitas coisas lá (no Chile)”. Nunca declarou preferência partidária. “Não tenho partido. Não quero saber dessa história de direita e esquerda. Costumo votar nos meus amigos.” Pano rápido.

Scolari é um profundo respeitador da hierarquia interna nos clubes, mas não recebe bem críticas vindas de fora. Em 2000, após uma derrota do Palmeiras para o Cruzeiro, o palmeirense e então ministro da Saúde José Serra o chamou de “retranqueiro”. A resposta foi curta e grossa: “Boa é a situação da saúde no Brasil. Minha sorte é que eu tenho um bom plano”.

Em 2002, não deu para Romário. Felipão, que cumprira a missão de classificar a seleção brasileira para o Mundial daquele ano, foi pressionado por Ricardo Teixeira para que convocasse o genioso craque. Teixeira, a quem Scolari se referia como “doutor Ricardo”, ouviu um sonoro não. Ou melhor, um: “Tudo bem. Ele entra, eu saio”. O cartola preferiu manter o técnico e Romário ficou fora da Copa do Japão-Coréia. Os escolhidos pelo treinador rapidamente entraram no esquema “sangue, suor e lágrimas” e receberam a alcunha de “Família Scolari”. Na Ásia, como se viu, a disciplinada família venceu todos os sete jogos.

De volta ao Brasil, o devoto Scolari pagou uma promessa à Nossa Senhora de Caravaggio e percorreu, a pé, os 18 quilômetros que separam Caxias do Sul do santuário de Farroupilha. Como em outras ocasiões, escalou o velho companheiro Louruz, que também é devoto, para acompanhá-lo. “Eu mesmo não prometo caminhadas, mas já o acompanhei duas ou três vezes. Sempre que ele faz promessa, me chama”, conta o amigo, para quem Felipão, apesar de todas as conquistas, não mudou nada. Nem com o sucesso na seleção brasileira, nem com o trabalho na de Portugal, nem mudará ao assumir o milionário Chelsea. “Mudou a vida dele, mas ele continua o mesmo cara, chato e ranzinza”, diz. Como o amigo, sem meias palavras.

Entre o afago e o safanão, sempre sem cerimônia, Scolari segue fazendo história. Nesses anos todos, sempre preservou a família do assédio da imprensa. É casado com Olga e pai de dois filhos, Fabrício e Leonardo, de 16 e 25 anos. A família prepara-se para viver os próximos três anos na Inglaterra e depois, quem sabe, retornar a Canoas, a 14 quilômetros de Porto Alegre. Mas Felipão não considera o Chelsea o último desafio da carreira. No horizonte não tão distante está a Copa de 2014, a ser realizada no Brasil. Não deixa de ser uma tentação e um sonho para o especialista em mata-matas. E em emoção.

sábado, 21 de junho de 2008

Dunga chuta a canela da Rede Globo

O técnico da seleção brasileira de futebol Carlos Caetano Bledorn Verri, mais conhecido por seu apelido que lembra um dos sete anões, deu entrevista reveladora a Luciano Borges, do Blog do Boleiro, no Terra Magazine. Borges também é diretor do programa Propaganda Futebol Clube, do canal Bandsports.

Na entrevista, Dunga revela que suas decisões de como tratar a imprensa geraram um mal-estar com o pessoal da "poderosa". E que, por isso, eles querem sua cabeça (basta ver a "campanha feita pelos comentaristas do Sportv e por Galvão Bueno, de que a coisa não pode continuar do jeito que está).

Abaixo a entrevista, retirada do Blog do Boleiro, no Terra Magazine:

Dunga: “Estou puto, mas estou tranquilo”


Por Luciano Borges

O técnico da seleção brasileira tem um jeito Dunga de explicar como está se sentindo: “Estou puto, mas estou tranquilo”. Em casa na cidade de Porto Alegre, o treinador pensa e repensa tudo o que passou nos últimos dias com a equipe do Brasil. E acha que está sendo pressionado para ceder nas restrições que impôs à imprensa, especialmente à TV Globo.

Em conversa por telefone com o Blog do Boleiro, Dunga explicou porque não utilizou atletas em idade olímpica nos quatro últimos jogos, porque dispensou Kaká, o que achou do desempenho da seleção nas partidas das eliminatórias e também se foi mesmo atropelado pelo presidente da CBF, Ricardo Teixeira, na convocação antecipada de Ronaldinho Gaúcho para a equipe olímpica.

Dunga, como você está?
Tranqüilo. Estou puto, mas estou tranqüilo. Sei que querem a minha cabeça porque criei uma zona de desconforto para quem estava acostumado a cobrir a seleção brasileira sem sair de casa. Porque tinham a escalação, o time, as preferências do treinador. Mas isto mudou.

De quem você está falando?
Queira ou não queira, a poderosa manda e os caras que trabalham para ela acham que mandam. Não digo que seja a TV Globo, mas alguns profissionais que trabalham lá e estavam acostumados com privilégios e não têm mais. Lá nos Estados Unidos, vieram pedir para entrevistar um jogador à uma da manhã. Disse não. Eles foram à loucura. Um câmera ficou dizendo que ia falar com A, B ou C, mas falei que não. Não tenho culpa se os caras chegaram atrasados em três dos quatro treinos que dei. Não é meu problema se o cara perdeu a hora passeando no shopping. E eu disse para o cara: “Não vai jogar a responsabilidade em cima de mim”. Depois dizem que o Dunga é carrancudo. Tenho senso de justiça.

As relações entre você e os jornalistas estão estremecidas?
Comigo, os repórteres perguntam tudo e eu respondo tudo. O que fiz foi atender o que 95% da mídia pediu e 100% da população brasileira queria: coloquei ordem, acabei com a festa que foi na Copa do Mundo de 2006. E estou atendendo o que o meu patrão determinou.

Mas a reclamação não é só dos profissionais da Globo.
Veja como são as coisas. Os caras que a vida toda reclamaram dos privilégios de uma emissora, agora se juntam com ela para meter o pau. Quem reclamava das tendas de algumas tevês que cobriam os treinos e faziam entrevistas na hora que queriam, agora tem tratamento igual. Mesmo assim, reclamam. Mas não vou dar nada para ninguém. Mas está tudo dez. Sei que os caras vão fazer leitura labial comigo, mas não mudo de posição. Estou tranqüilo.

Você está na corda bamba?
Já disse. Esta pergunta deve ser feita para o presidente da CBF. Mas, veja bem, quando o Ricardo Teixeira me contratou, ele deixou claro que nossa conversa seria direta, sem interlocutores. Falo direto com ele. E não fazemos nada sem planejamento. O Ricardo recebe relatórios de tudo o que vamos fazer, quem convocamos, porque convocamos, qual o nosso objetivo. Funciona como uma empresa.

Quando você conversou com ele pela última vez?
Ontem à noite, por telefone.

Você sabia da convocação do Ronaldinho Gaúcho para a Olimpíada?
Esta idéia vem amadurecendo na comissão técnica há três meses. Passamos para o presidente Ricardo Teixeira e ele assumiu o encaminhamento dela. A gente teve que deixar o cara bater no fundo para ajudá-lo. Mas eu não podia ir até o jogador, me expor. Por isso, o Ricardo disse: ‘Deixe que eu mesmo falo com ele’. Ele não está machucado. Mas não joga há três meses. Por isso, o Paulo Paixão (preparador físico) vai trabalhar com ele. Agora, o Ronaldinho sabe que vai viajar na classe econômica, junto com o resto do time. E tem que estar disposto a treinar.

O que você pode dizer sobre este caso do Kaká? Você está realmente chateado com ele?
Não estou. Eu quero contar com os melhores. Não sou maluco. Não sou doente. O que eu falei foi o seguinte: ele precisa estar bem para disputar os dois jogos das eliminatórias. O que eu ouvi foi que para o primeiro jogo não dava e talvez desse para o segundo. Aí não seria possível. Ele não está bom para jogar hoje.

Ele disse no programa “Bem Amigos”, no Sport TV, que não gostou muito do jeito como foi cortado.
É mas ele mesmo disse também que jogou machucado em 2006 e não faria isto mais. Mas eu pergunto: por que jogou cinco meses no Milan com o problema no joelho? O que eu ouvi era que ele talvez pudesse, talvez não pudesse jogar os dois jogos. Ou tem ou não tem condições. Ou então chega e diz “eu vou pro pau”. Agora, para impedir o Kaká de ir à Olimpíada, é o Milan que decide. Mas para jogar nas eliminatórias, é o Kaká que decide.

O que houve então, um mal entendido?
Eu sempre digo aos jogadores que eles só podem acreditar naquilo que sai da minha boca. Só vale quando eu falar. Nunca disse que não queria o Kaká ou o Ronaldinho Gaúcho. Quero contar sempre com os melhores. Quero os melhores, em condições de jogar.

Mas o Ronaldinho nem está jogando.
Esta situação é uma exceção, fizemos um planejamento para ele jogar. Para mim, todo mundo é importante, do Júlio César ao Ronaldinho, passando pelo Maicon, Lúcio, Juan, Anderson, todo mundo.

No meio desta situação, a Olimpíada veio para atrapalhar?
Não vai atrapalhar, vai ajudar.

Mas até para este amistoso no Rio você já teve que dispensar dois jogadores.
O Fluminense divulgou quando ia viajar para o Equador? Não. Quando eles pediram a dispensa do Thiago Neves e do Thiago Silva, não me opus. Não vou atrapalhar a vida de ninguém.

Vocês dispensaram o Alex Silva e o Hernanes do São Paulo?
Não. Até porque ninguém falou comigo. Se falassem comigo, dissessem que precisam deles, a gente podia fazer um acordo. Eles jogariam uns 60 minutos no sábado e eu os colocaria para jogar uns 40 minutos no domingo.

Esta má fase que a seleção está passando não pode queimar jogadores como, por exemplo, o Diego?
Eu sempre digo: seleção é pressão. O cara não pode se queimar. Eu dou oportunidade. Veja o caso do Luisão: nos quatro anos antes de eu assumir, ele jogou dois jogos pela seleção. Comigo, em dois anos, já disputou seis. É saber aproveitar. Tem cara que diz que precisa de sequência de jogos. Isso vale para times e não para seleção. Seleção é confiança. O jogador tem que dizer “tenho cinco, dez minutos para jogar e vou dentro”. Viu o Anderson? Como ele entrou contra o Paraguai?

Contra o Paraguai, a seleção não conseguiu parar o contra-ataque e a jogada de bola parada.
Isso é o mesmo que dizer que a Itália joga no contra-ataque. Todo mundo sabe disso. A gente sabia que o Paraguai tem essa característica. Mas sofremos dois gols em falhas que acontecem no jogo. Contra a Argentina, sabíamos que dos oito gols que eles tinham marcado nas Eliminatórias, seis foram em jogadas de bola parada. No Mineirão, eles repetiram estas jogadas várias vezes. O que aconteceu? Nada. O time melhorou. Comparando com os argentinos, eles somaram dois pontos e nós um nestes dois últimos jogos.

O Brasil não jogou mal?
Contra a Venezuela, jogou mal mesmo. Contra o Paraguai não fomos bem. Mas contra a Argentina, o time melhorou. A gente queria ganhar o jogo, mas enfrentamos a Argentina.

Por que você não aproveitou os amistosos nos EUA (contra Canadá e Venezuela) para testar jogadores em idade olímpica?
É outra crítica que fazem sem saber que planejamos tudo, pensamos antes de tomar decisões. Para as eliminatórias, os jogadores estavam no final de temporada, 15 dias parados. Se coloco um time olímpico, eles iam ficar mais 15 dias. Como o time poderia ir bem nas eliminatórias? Assumimos um risco calculado. Se a gente tivesse certeza seria melhor.

Você está se sentindo pressionado?
Não pela CBF. Sei que os caras querem me botar contra a parede para que eu ceda. Mas não vou mudar. Já me reuni com eles, eles falam que tem os melhores profissionais, os melhores equipamentos, mas isso não muda nada do que me propus fazer na seleção. Queriam seriedade e temos seriedade.

Os jogadores entendem isso?
O grupo é muito responsável. Temos alguns atletas experientes como o Gilberto Silva, Gilberto, Lúcio e Juan que orientam os mais novos. Eles sabem que só quero que eles tenham responsabilidade. Trato os caras com o maior respeito. O próprio grupo puxa quem está se desviando um pouco. É uma tarefa importante jogar pelo Brasil. A situação do país requer algumas mudanças. Tenho a oportunidade de mudar esse aspecto. Ninguém leva vantagem aqui. Para mim, o que vem primeiro é a seleção brasileira.

Você teme ser demitido?
Sou bem sucedido na vida. O que tenho dá para viver. Sempre digo que Deus me deu um dom, que é o de jogar bola, e eu acrescentei algumas coisas. Eu estou na seleção porque sempre achei que seleção não é escolha, é missão. Para mim, primeiro é o trabalho e não o emprego. Mas estou tranqüilo. Aquilo que me propus a fazer, renovação e o fim das mordomias de alguns setores da mídia, estou fazendo.

sexta-feira, 20 de junho de 2008

A verdade sobre o afastamento de Felipe e William

O primeiro afastado foi o goleiro Felipe. Há muito tempo ele estava na berlinda. Desde a problemática renovação de contrato dele, para ser exato. Na época o diretor de futebol do Corinthians, Antônio Carlos, queria negociá-lo com o Fluminense. Só não o fez por temer uma reação indignada da torcida. Mas Felipe ficou de sobreaviso, na primeira oportunidade, seria "fritado".

E não pensem que a fritura foi por causa da falha do goleiro no segundo gol do Sport, o gol do título pernambucano na Copa do Brasil. A coisa é mais grave.

Antes do jogo contra o Sport, no Recife, o zagueiro William (capitão do time e homem de confiança do Mano, desde os tempos de Grêmio) e o goleiro Felipe tiveram uma conversa com o técnico Mano Menezes. Eles disseram que a melhor tática para o jogo era atacar o Sport desde o início. Disseram também que se o Corinthians jogasse atrás não aguentaria a pressão pernambucana. Mano bateu o pé e falou que o time jogaria recuado.

No intervalo, já com os 2 x 0 para o Sport, o vestiário corinthiano ferveu. William e Felipe foram para cima de Mano Menezes, para tirar satisfação com o técnico sobre o ocorrido. Como que dizendo "e aí, e agora? sua tática não deu certo".

O primeiro afastado foi Felipe, na semana passada. Quando Júlio Cesar jogou - e bem - contra o Palmeiras no Paulistão, a diretoria do Corinthians soltou foguetes. A transferência do goleiro é vista com ótimos olhos pela diretoria do time.

Nesta semana foi a vez de afastar o segundo jogador que peitou Mano Menezes: William. Só mesmo isso explica o fato do técnico de afastar do time seu capitão e homem de confiança que, ainda por cima, foi o melhor em campo na partida contra o Brasiliense.

quinta-feira, 19 de junho de 2008

O peso da tradição

Tradição é uma coisa engraçada. É dela por exemplo que vem o tabu. E quando falamos em tabu, muitos rapidamente dizem que "tabu foi feito para ser quebrado".

Mas, de novo, a tradição.

Nesta semana tivemos alguns confrontos esportivos bem tradicionais.

Na NBA, Boston Celtics e Los Angeles Lakers decidiram o título. 16 títulos dos verdes, 14 dos amarelos de Los Angeles.

Haviam decidido a NBA em outras 10 oportunidades. 8 a 2 para os Celtics. O Lakers chegou credenciado ao título por causa de como venceu o San Antonio Spurs na final de conferência. Mas o que aconteceu? Pesou a tradição e os Celtics venceram a série por 4 a 2.

Pela Eurocopa, dois confrontos marcados pela tradição. Itália e França jogaram para decidir uma vaga nas quartas-de-final da competição. A Itália, com muito mais história que a França, venceu por 2 a 0 e classificou-se.

Hoje Portugal e Alemanha jogaram já pelas quartas. O time de Felipão terminou seu grupo em primeiro, jogando um futebol muito bom. Enquanto isso, a Alemanha sofreu na primeira fase. Perdeu da Croácia e só conseguiu a classificação na última rodada.

No jogo de hoje, não deu chances para Portugal e venceu por 3 a 2. Com isso, Felipão deixa a seleção portuguesa após uma derrota doída.

No sábado, outro jogo que exemplifica muito isso. Espanha e Itália jogarão por uma vaga na semifinal. A Espanha foi a primeira colocada em seu grupo, jogando muito bem. Tem o artilheiro da Euro - David Villa -, tem uma geração de jovens e muito bons jogadores - Puyol, Fabregas, Xavi, Iniesta, Villa, Torres. Ou seja, etá muito bem.

Por outro lado, a Itália só conseguiu a clssificação na última rodada, depois de ser goleada pela Holanda na primeira partida por 3 a 0. Mas está longe de ter um time ruim. Tem um goleiro excepcional, uma zaga boa, com bons laterais, um meio-campo que marca muito e um atacante, Luca Toni, que sabe marcar gols - fez 24 só na Bundesliga. O time terá dois desfalques. Um, importantíssimo: Andrea Pirlo. O outro é Gattuso.

Mas o porque um time assim venceria o outro, em melhor fase? Primeiro, porque o esporte em questão é o futebol. E nenhum dos esportes coletivos é tão imprevisível.

Segundo, a Espanha não vence a Itália em partidas oficias entre seleções adultas desde 1920, quando ganhou dos italianos na olimpíada de Antuérpia. Some-se a isso a eterna tradição espanhola de amarelar em momentos decisivos...Tudo pronto mais uma vez para uma final entre Itália e Alemanha.

domingo, 15 de junho de 2008

Quer ser estrela, vai jogar tênis!

Essa é para Iziane, a pseudo-estrela do basquete feminino do Brasil.

Depois de ser colocada para fora da quadra e da seleção brasileira que disputa o pré-olimpíco de basquete em Madrid, após se recusar a entrar em quadra contra a Bielorrúsia, a ala ainda teve a capacidade de dar a entrevista que vocês podem ver abaixo:



É muita petulância. Errou, deveria ter pedido desculpas. Ponto para o técnico da seleção, Paulo Bassul, que a expulsou da quadra, da concentração e disse que "se o Brasil conseguir a classificação para Pequim, ela estará fora."

Talvez, com o tempo, ela veja a grande besteira que fez.

quinta-feira, 12 de junho de 2008

Manda Bala!!!

Tenho que confessar uma coisa para vocês: eu não acreditava no Sport.

Na minha cabeça, Mano faria contra o Sport o mesmo que fez contra o Santos, pela Libertadores no ano passado. Marcaria pressão no início de jogo, e essa pressão só arrefeceria quando marcasse o gol, que lhe daria o título, possivelemente.

Não foi o que aconteceu. Em estádios como a Ilha (ou BombonoIlha, como queiram) jogar todo o tempo atrás é uma fria. E foi isso que aconteceu com o Corinthians.

Além de ter errado na postura do time, Mano também errou ao final do jogo, quando responsabilizou a arbitragem pela derrota. Já havia sido assim contra o Botafogo, no Rio e na época da eliminação do campeonato paulista.

Mano, você tem que saber perder.

Ao Sport Clube do Recife, os mais sinceros parabéns, foi uma conquista irreparável.

Venceu todos os jogos em casa, sempre com, no minímo, dois gols de diferença. E venceu os dois grandes favoritos da competição: Internacional e Palmeiras.

E viva o profético Carlinhos Bala que, no saguão do Morumbi, ao final do primeiro jogo, sentenciou: "Enílton fez o gol do título"

terça-feira, 3 de junho de 2008

O perigo chamado Sport

O Corinthians é favorito ao título da Copa do Brasil, por inúmeras razões, mas também por uma só: Mano Menezes.

O que ele fez com esse time não é brincadeira. E não é só uma defesa bem postada, é o time todo, é a bola parada, muito forte.

O Corinthians é favorito por tradição, pelo que está jogando e por sua história na Copa do Brasil (chegou em três finais, venceu duas - ambas com o segundo jogo fora de casa - e perdeu uma).

Mas o Sport também vem muito forte, com um ótimo conjunto, bons jogadores.

Para falar mais sobre o Sport, o Craque de Blog abre espaço para José Neves Cabral, jornalista pernambucano dos bons, que entende muito do que acontece no futebol de lá. Aproveitem!

Pelo que vem demonstrando, e acho que vocês aí no Sul já perceberam, o time do Sport chega à decisão com um espírito de quem está determinado (ou predestinado?) a ganhar o título, tantos foram os obstáculos que superou até se classificar à final.

Não é fácil chegar em Sáo Paulo e arrancar um empate do Palmeiras e depois goleá-lo na Ilha. Como não é fácil perder de pouco em Porto Alegre (1x0) e fazer 3x1 no Recife com um gol de falta de um zagueiro que, até então, nunca havia acertado. E o time já estava com um a menos devido à expulsão de Luciano Henrique. Coisa do destino ou de quem está predestinado. E o pior ou o melhor: o Sport eliminou o Inter na Ilha sem Romerito, seu principal jogador neste primeiro semestre.

Mas por que o tecnicamente limitado Romerito tornou-se ídolo do Sport? É simples: há uma mística na Ilha do Retiro de que às vezes o time vence sem demonstrar muita raça e é vaiado, mas, às vezes, perde e é aplaudido.

Romerito encarnou muito bem essa mística. Ele é competitivo e ao mesmo tempo solidário, assim como Dutra, Sandro Goiano, Durval, Carlinhos Bala, Igor. O espírito de competição e solidariedade tomou conta do Sport.. Somemos a isso um maciço apoio da torcida que enche o estádio. O goleiro Marcos chegou a comparar a Ilha do Retiro ao estádio de La Bombonera, não por acaso.

Os pontos fracos existem, claro. O lateral-direito Luizinho Neto dá evidentes sinais de que já não consegue competir em alto nível, embora seja utilíssimo nas bolas paradas. O ataque do Sport é claudicante, pois Leandro Machado ainda não encontrou a forma ideal, mesmo 'beliscando" vez por outra. E o técnico Nelsinho Baptista tem poucas opções para mudar o quadro, pois tem no banco para o ataque apenas Enilton e Roger, ambos abaixo do nível de Leandro.

Mas o ponto forte do Sport é mesmo o conjunto, que tem como base uma defesa sólida com Durval e Igor formando dupla há mais de um ano e um goleiro que vem superando todas as expectativas. Magrão é hoje um dos grandes ídolos do clube, depois de ter vencido a desconfiança da torcida, desconfiança que o fez ficar na corda bamba por um bom tempo na Ilha. Hoje ele é inquestionável.

Outro ponto forte do time e isso vem fazendo a diferença é a experiência de jogadores como Dutra, Durval e Sandro Goiano, o terceiro de tantas batalhas vencidas pelo Grêmio e que hoje empresta seu profissionalismo ao Leão. É isso aí.

Não dá pra dizer que o Sport vai ser campeão de véspera. Afinal, o Corinthians é o Corinthians e jamais será pequeno, nem se descer à Terceira Divisão.

Mas é possível enxergar a disposição para a batalha em cada um dos jogadores.

Quanto ao caso Romerito, tenho ouvido poucas declarações da diretoria do Sport. Em todas, fica claro que o clube fez o que estava a seu alcance.